Todo esporte tem suas paixões e apaixonados. Talvez essa máxima não se aplique seja uma unanimidade, mas escrevo ainda sob efeito de uma, digamos assim, imersão na etapa brasileira do CT, finalizada terça-feira, 28 de junho, em Saquarema. A vitória de Filipe Toledo e o fato de todos os quatro finalistas serem brasileiros, teve um valor a mais em meio a tantas polêmicas envolvendo julgamento, WSL, etc. Mas estamos aqui para falar de um esporte que envolve torcida, multidões, discussões e por mais piegas que lhe pareça, paixão.
Sempre me questiono sobre a disposição dos aficionados por futebol empreendem quando viajam, muitas das vezes de ônibus, para lugares em países em que normalmente não iriam para tirar suas férias, mas que quando seu time de coração disputa uma partida, a história é outra: partem em busões fretados, amontoados, dormem em condições difíceis. Lembro de ver alguns argentinos no Recreio, durante a Copa, tomando café em um posto na rua Glaucio Gil, a bordo de uma D-20 ( picape da Chevrolett) que devia ter no mínimo uns trinta anos. E os caras vieram de Buenos Aires.
Futebol e times à parte, o surfe é um esporte individual, mas no caso do Circuito Mundial, podemos dizer que temos uma “equipe” o disputando, e você pode até ter o seu preferido, mas a torcida é sempre para que o Brasil se saia bem e de preferência um dos nossos vença o evento. E Saquarema foi uma demonstração do power surfe brazuca, não só dentro da água, mas nos olhares, energia, e toda a disposição, e porque não educação, mostrada pela torcida brasileira, que mesmo com a praia lotada, soube se manifestar de maneira educada, sem deixar de ser incisiva.
Estive desde o início do evento até as finais em Saquarema e por mais que seja clichê, a energia estava muito boa. Foi bom ver que o surfe finalmente faz realmente parte do calendário da cidade tendo o destaque que merecer. Foi ótimo ver que, mal o CT acabou, já havia uma outra competição homologada pela CBS que começa no próximo dia 4 de julho, sendo preparada na Praia da Vila.
Saquarema virou realmente a capital do surfe, e perceber como isso reverbera na comunidade local através da geração de empregos e, porquê não, na inspiração de novas gerações de campeões, que seguem o legado de Jeremias Mica da Silva, Raoni Monteiro, Daniel Templar, Marcos Monteiro, Leo Neves, João e Lucas Chumbo, entre outros, foi muito gratificante.Foi ótimo encontrar colegas de profissão empenhados em fazer a melhor cobertura possível, enviando informações e prestando um ótimo serviço ao surfe, muitos pelo mero prazer de registrar o esporte.
Fotógrafos, cinegrafistas, repórteres, colunistas, analistas, curiosos, estudantes de jornalismo, instagrammers, comentaristas ( amadores e profissionais), técnicos, atletas, todos ali tinham propriedade para falar sobre surfe da sua maneira, do seu jeito.
Agradecimentos especiais ao fotógrafo Luciano Cabal, incansável na cobertura dos melhores ângulos, das melhores fotos e por seu amor ao surfe, independente das dificuldades . Agradeço também ao Jorge Porto “Sanguelo” de Arraial do Cabo, que fortaleceu. Outro que chegou junto pela vibe nosso Ellan.
Na água o que eu vi foi Filipe Toledo surfando dois degraus acima de todos desde a primeira até a final. Depois dele Yago e Jack Robinson, seguido por Miguel Pupo e Ítalo, nessa ordem. Entre as meninas, Carissa Moore mostrou, mais uma vez, que se disputasse o CT masculino, iria dar dura em muito competidor, principalmente os que não dão aéreos. Johanne Defay é uma guerreira e não se surpreenda se ela for campeã mundial antes de outras consideradas mais talentosas. Tati ainda precisa melhorar seu front side e tática de competição.
No mais, o melhor protesto foi termos quatro surfistas na semifinal!!