Confira alguns tópicos levantados por Breno Sivak, sobre a trágica morte de Marcio Freire.
1)Em mar de ondas gigantes para acontecer algo grave é muito mais relevante o ponto da queda, e a maneira como se cai, do que a o tamanho da onda em si, que para ser fatal não precisa ser uma rainha do dia.
2)Somente 0,0001% dos surfistas do mundo na história ja droparam uma onda de 15/20 pés plus. Não tem onda deste tamanho no Brasil, por exemplo.
3)Se o surfista que cai numa onda deste tamanho for muito arrastado para o fundo a ponto de outra(s) quebrar(em) antes dele subir para respirar a chance de apagar quintuplica.
4) Em um mar 15/20pés plus e subindo achar alguem desmaiado que está sem colete inflável, em água escura e ambiente hostil e incontrolável – antes da morte cerebral por falta de oxigênio – beira o impossível.
5)Surfar ondas de 15/20 pés plus em Nazaré estando fora de forma há anos, sem colete inflável e sem jet-ski de apoio exclusivo beira o suicídio. Não tem outra palavra para definir, desculpe…
6)O mar subindo em Nazaré é bem diferente do que em qualquer outro pico de ondas grandes. Lá tem um canion extremamente profundo, gerando um movimento de correntes submersas muito, mas muito maior do que um outro spot de ondas gigantes e/ou um mar linear, mesmo maior, comparativamente.
7)Surfar ondas gigantes em Nazaré é como escalar o Everest e ultrapassar o acampamento 4. É a zona da morte. É a zona do Ego. Humanos misturam coragem com insanidade. Alguns escalam sem oxigênio. Outros surfam sem colete inflável e sem jet ski exclusivo.Alguns dão sorte e sobrevivem, mas a zona de ação é zona de morte.
8)Maya e Scooby ainda estão vivos por estarem em forma, com jets pilotados por experimentadíssimos pilotos lhes dando segurança exclusiva e por estarem de colete inflável. E, ainda assim, “morreram”. Mas Deus, os salvadores e os ressucitadores, lhes trouxeram de volta a vida. Sem estes cruciais detalhes nosso Marcio Freire não retornou da morte. As neves do Everest colecionam duas centenas de corpos. Nazaré inaugurou sua tragédia pessoal com nosso corajoso Baiano.
9)O legend Marcio Freire me confessou muita tristeza em não se perdoar por não ter conseguido, por sua própria culpa, o green card-mesmo depois de décadas morando em Maui- e acabou sendo obrigado, contra sua vontade, a ir embora.
10)O legend Marcio Freire era um legítimo Mad Dog: forte, humilde e gente boa. Sorriso farto. Gentil e educado. Da casta de Baianos porretas que desafiaram e defloraram a iconográfica Jaws na remada. Seu nome e sua imagem estão cravejados, para sempre, no hall dos surfistas iconográficos da história.
Se lhe perguntassem diria que preferiria que seu corpo físico nem achado fosse. Como Waterman e surfista, raiz e de alma, estaria feliz se banqueteando com Netuno nas profundezas do seu mar profundo.
Geena e Rachel, com quem curtimos aqueles dias inesquecíveis, em Bali, estão arrasadas.
Fica com Deus parceiro.
Aloha!