Todo esporte tem seus ídolos. Alguns nascem com o biotipo perfeito, outros com talento natural e alguns com determinação fora do comum para treinar exaustivamente e se tornarem vencedores. No entanto, além do sucesso competitivo e das vitórias, poucos atletas deixam um legado duradouro, uma contribuição em prol do esporte que lhes proporcionou fama, dinheiro e todos os benefícios associados.
Ricardo Bocão, o surfista brasileiro, construiu o maior legado do surf no Brasil. Ele se confunde com a própria mídia do surf desde o momento em que transformou as revistas de surf dos anos 1970 e suas fotos icônicas em vídeos e notícias atualizadas sobre as novidades do esporte, que na época ainda era considerado underground.
Seu programa, Realce, atendeu aos anseios de uma tribo crescente que acompanhava o surf apenas em flashes nos noticiários de televisão e em filmes estrangeiros que, assim como o status do esporte na época, eram exibidos em salas de cinema underground, com espectadores sentados, ou melhor, amontoados no chão.
Além disso, Bocão também fundou o circuito Realce de Surf, onde os melhores surfistas competiam. Ele também fabricou pranchas de surf e foi o criador do sistema de quatro quilhas, que na época de sua invenção não recebeu o reconhecimento e a eficácia merecidos, mas hoje em dia faz parte do arsenal de milhares de surfistas ao redor do mundo.
Ele também se destacou em competições e foi um dos melhores big riders do Brasil. Por isso, ele foi o único brasileiro até os dias de hoje a ser convidado três vezes para o lendário campeonato Eddie Aikau, no Havaí, considerado o campeonato de surf mais icônico do mundo.
Não foi por acaso que Netuno enviou uma bestial onda, com incontáveis e apavorantes metros de altura, para que Ricardo Bocão, aos incríveis 68 anos, pudesse desafiar o mundo ao surfá-la de ponta a ponta na temida praia de Nazaré, em Portugal, com o mesmo estilo e determinação de quando era adolescente.
Essa imensa onda foi um agradecimento de Netuno e de toda a hoje enorme comunidade de surfistas brasileiros. As energias conspiraram para que ele pudesse surfar essa onda gigantesca e, como resultado, o vereador Marcelo Arar concluiu que Ricardo Bocão deveria ser o primeiro surfista brasileiro a receber a Medalha Pedro Ernesto, imortalizando-o como cidadão carioca merecedor desse reconhecimento. Esse evento foi ratificado nos anais da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, para toda a eternidade.