Entre os dias 08 e 11 de dezembro a Praia do Ronco do Mar, localizada no município cearense de Paracuru, recebeu alguns dos melhores surfistas profissionais em atuação no país para o CBSurf PENA Paracuru Pro, última etapa do circuito Taça Brasil, certame qualificatório para a Elite do Surf Nacional. Os grandes campeões da etapa foram a catarinense Tainá Hinckel e o paulista Rena Peres, com Monik Santos-PE faturando o circuito entre as mulheres e Cauã Costa conquistando o topo do ranking entre os homens. Pela natureza da competição já era de se esperar fortes emoções nas últimas baterias que definiriam os nomes dos campeões do circuito e da etapa. Mas, nem o mais criativo roteirista de Hollywood poderia imaginar o que todos que estavam ligados no evento, fosse na praia, ou através da Transmissão Ao Vivo pela internet, iriam testemunhar. A primeira bateria a cair na água no último dia de competição foi a semifinal 1 das mulheres. Em uma disputa acirrada as quatro semifinalistas alternaram a liderança em alguns momentos. Entretanto, a paraibana, destaque da nova geração do surfe feminino, Ana Luiza, só precisou de duas ondas para conquistar a primeira colocação da bateria e garantir uma das vagas para a final. Avançando com ela tivemos a cearense, atualmente radicada no Rio de Janeiro, Yanca Costa, que conseguiu encontrar as duas ondas que precisava, em um mar que nitidamente perdia pressão a cada minuto. Encerrando sua participação ficando com a 5ª colocação no evento ficou Monik Santos-PE, com a cearense Mayra Oliveira deixando o mar muito aplaudida para concluir sua participação no evento com uma honrosa 7ª colocação.
Na sequência foi a vez da segunda bateria das semifinais feminina entrar na água. E quem chegou à praia ou ligou o computador no início da bateria não entendeu bem o porquê de só haverem três atletas na água. Acontece que Tainá Hinckel, ao dar aquela caidinha pré-bateria pra aquecer, acabou levando uma pranchada que abriu um pequeno corte em sua cabeça. E enquanto sua bateria estava na água, Tainá vivia o dilema de sair do hospital e chegar a tempo de sua bateria. Doze minutos se passaram até que Tainá chegou correndo na praia com seu pai, vestindo a lycra e literalmente, seguindo o caminho das pedras para o outside, quase caminhando sobre a água, para entrar na bateria com a quarta prioridade. E logo que chegou Tainá pegou a onda que seria a maior média da bateria e que imediatamente a colocou na disputa. Os poucos minutos que restavam foram se passando, até que próximo do final da bateria, Tainá pegou a onda que precisava para avançar pra final. A praia inteira foi ao delírio e a aplaudiu muito ao vê-la sair do mar, nitidamente exausta, mas feliz em ter garantido sua vaga na grande Final. Avançando em primeiro tivemos a carioca Júlia Duarte, que também faria parte do enredo das emoções que estariam por vir.
Ao término das semifinais todos estavam atônitos, pois, quando a bateria entrou na água ninguém mais esperava que Tainá pudesse voltar. Daí todos ficaram muito surpresos com a superação que ela demonstrou só em ter conseguido chegar, mesmo com a bateria em curso. Mas, entrar na água com menos da metade do tempo de bateria e conseguir sua classificação foi uma tarefa prá lá de hercúlea e deixou até os mais experientes, acostumados a todo tipo de perrengue em campeonatos, de queixo caído! Dizer que ela foi aplaudida seria até uma injustiça, porque na verdade, ao sair da água ela foi ovacionada pelo exemplo absurdo de superação que todos presenciaram.A paraibana Nalanda Carvalho terminou na 5ª colocação do evento e a catarinense Maya Carpinelli encerrou sua participação na 7ª colocação.E para quem achava que as emoções tinham ficado reservadas apenas para as semifinais, a grande Final ainda guardaria uma dose extra de adrenalina. Com o mar ficando cada vez mais difícil, as atletas foram buscando construir seus resultados pouco a pouco e logo, Monik Santos-PE assumiu a liderança da bateria. Com o resultado ela se tornaria a campeã do circuito. Contudo, há poucos minutos do final, uma onda acabou escapando das competidoras que estavam mais ao outside e Tainá, que estava mais embaixo, não deixou a onda passar. Poderia ser sua última chance de sair do Paracuru com o título da etapa.
Soado o segundo toque da sirene a praia toda estava em silêncio esperando o anúncio pela locução do evento, da nota que faltava. Até esse momento o título estava nas mãos da carioca Júlia Duarte, que liderou boa parte da bateria. Tainá precisava de 3,60 e para o delírio de toda praia que àquela altura já estava completamente envolvida com a história de superação da catarinense, cravou 3,93 para faturar o troféu de campeã e os R$ 15.000 (quinze mil reais) da premiação. Não precisa dizer que nesse momento ela desabou em um choro de pura emoção e a praia foi ao delírio, e até quem estava sentado se levantou para aplaudir de pé aquela história da vida real, que poderia muito bem ser um conto de fadas com o final feliz mais mirabolante que se poderia imaginar, mas que na verdade, era uma linda história da vida real, da princesa do surfe que superou obstáculos que para muitos seriam intransponíveis, para escrever uma página da história do surf brasileiro com ares de realismo fantástico.
Com o resultado, o título saiu das mãos de Júlia Duarte-RJ, que precisaria vencer para levar o circuito, e caiu de presente no colo da pernambucana Monik Santos, que comemorou muito a conquista do mais importante título de sua carreira.Apesar da frustração, Júlia, que acabou como Vice-Campeã da etapa e do circuito, também comemorou o importante resultado e ainda embolsou R$ 8.000 (oito mil reais) da premiação. Na terceira colocação ficou Ana Luiza-PB, que em um descuido acabou cometendo uma interferência que dividiu a sua maior nota ao meio tirando dela a possibilidade de fazer o maior somatório da bateria. Na quarta colocação ficou Yanca Costa-RJ, que também comemorou o resultado, afinal de contas, ela estava entre as Top #4 do evento.
Entre os homens, apesar de não ter sido tão espetacular quanto na categoria feminino, também tivemos grandes emoções. Na primeira semifinal o cearense Artur Silva conseguiu encontrar as melhores ondas para vencer, trazendo consigo o paulista Renan Peres. Em terceiro ficou o Índio da Paraíba, Samuel Igo e na quarta colocação ficou o Pernambucano Douglas Silva, o Dodô de Maracaípe. Contudo, todos os holofotes estavam voltados para a segunda semifinal, que definiria o campeão do circuito. E diferente do que aconteceu com as mulheres, no masculino, o então líder do circuito, Luel Felipe-PE, dependia da queda de Cauã nas semifinais. Caso ele passasse, se tornaria campeão do circuito. E focado na missão, Cauã mostrou por que é o atual Bicampeão Sul-Americano Junior, dominando a bateria e avançando para a Final em primeiro, para garantir mais um título em um ano repleto de conquistas. Passando junto com ele tivemos o local do Ronco, Thiago Eduardo, com Ian Gouveia-SC encerrando sua participação em terceiro e o paranaense Peterson Crisanto, em quarto.
Na Final o grande destaque foi Renan Peres-SP, que conseguiu tirar leite de pedra em um mar com poucas ondas e que, segundo ele, nunca havia surfado na vida, para superar três especialistas naquela onda, Artur Silva, atual Campeão Cearense Profissional, Thiago Eduardo, local do pico e Cauã Costa, que apesar de competir pela bandeira do Rio de Janeiro, se criou competindo nessas ondas. Os três terminaram a competição em segundo, terceiro e quarto lugares, respectivamente.
RESULTADOS DAS FINAIS
MASCULINO
1º Renan Pares-SP
2º Artur Silva-CE
3º Thiago Eduardo-CE
4º Cauã Costa-RJ
CAMPEÃO DO CIRCUITO – CAUÃ COSTA-RJ
FFEMININO
1ª Tainá Hinckel-SC
2ª Julia Duarte-RJ
3ª Ana Luiza-PB
4ª Yanca Costa-RJ
CAMPEÃ DO CIRCUITO – MONIK SANTOS-PE