Vou para o havai desde 1972 quando fui campeão brasileiro e parti para a Califórnia atrás de novas oportunidades e da evolução do meu surfe. Na ocasião morei com vários surfistas que posteriormente tornaram-se pessoas importantes no mundo do surfe como o Mark Warren, presidente da Quiksilver, o Ian Cairns, que tornou-se presidente da IPS ( International Professional Surfers, hoje WSL, Mike Larmont, que não morava em nossa casa mas frequentava e chegou ao posto de presidente da Billabong, Jim Banks, entre outros.
Depois que passei um tempo na Califórnia, tive uma época que foi bem interessante porque eu morava bem em frente a Sunset e na época nao tinha cordinha e não tinha ninguém para te sinalizar aonde entrar no mar, como pegar as melhores, e tínhamos que nos virar na base do extinto e da raça.Desde essa primeira vez em 1972 eu volto ao Havaí todos os anos pois é um lugar onde me encontro. A energia do lugar é muito forte e pra mim a cultura local é algo inacreditável.
Esse ano eu peguei a late season, em abril, época que normalmente tem menos ondas. Eu gosto de ir na alta temporada, que é o inverno, mas esse ano nao consegui. A trip foi muito boa com ondas excelentes, clean, pouca gente na água. Surfei Sunset, minha onda preferida, com 6 a 8 pés com pouquíssima gente na água, entre eles meu guru Randy Rarick, além do Dennis Pang e do Barton Linch, que inclusive está morando lá. Esse dia de 6 a 8 foi o maior, mas ao longo das três semanas que fiquei no North Shore, vi três swells entrando, os outros foram com ondas menores, mas foi muito divertido.
Fora da água tive a oportunidade de almoçar com meus amigos no Turtle Bay e foi um almoço maravilhoso, com muita conversa e comida boa. Essas ocasiões são realmente muito importantes, pois relembramos histórias, conversamos sobre o surfe atual e nos divertimos muito. O Randy havia acabado de voltar da Austrália, onde se reuniu com alguns dos gurus do surfe australiano, entre eles o tricampeao mundial Nat Young e o Bob McTavish, o cara que junto com o Randy trouxe as mini models para o mundo do surfe, além do Wayne Linch, uma lenda do surfe mundial e do cineasta Jack McCoy, e muitos outros.
Além dessa turma estive com o Michael Ho, com o Clyde Aikau, que mora no east side do Havaí, onde os havaianos ainda dominam. Lá é um lugar pouco frequentado onde o Clyde tem um sítio no qual ele mantém um hotel para cachorros e foi muito legal pois passamos a tarde conversando e foi muito bacana.Teve um dia que os havaianos fizeram um barbecue em Ala Moana e na ocasiao eles montaram uma barraca e ficamos curtindo.
Estavam presentes nomes como o Dino Miranda, Lance Oheokano, o atual campeão mundial de Longboard, Duane de Sotto, com uns trinta havaianos, Fast Eddie, o meu padrino de casamento Bob e sua esposa, entre vários outros havaianos. Eu era o único haole e foi realmente muito legal comer aquela comida gostosa, em frente ao pico, com pessoas tão queridas. A gente curtia, comia, batia papo, ia lá, pegava as marolinhas que estavam rolando…tudo muito alto astral. Nesse dia as ondas estavam pequenas mas boas com meio metro, terral, muito divertido.
O que é interessante é que eu tenho vários amigos, entre ele o George e a Pam, que moravam no North Shore na ocasião em que os conheci mas hoje moram em Eva Beach, no caminho de Makaha. Entao eu me dividi entre a casa dos meus amigos americanos e também a casa do meu amigo brasileiro Vitor Marçal, que é chefe dos guarda vidas do North Shore.
Essa viagem foi uma das que eu mais me diverti no Havaí. Peguei ondas pequenas e médias com muita qualidade e recebi muitos convites legais dos amigos, pois estamos em um momento com muito mais experiência e são momentos preciosos. Com a maturidade as coisas pequenas não me aborrecem mais e aproveito a cada dia que tenho saúde e boas oportunidades da vida.A parte ruim foi quando eu estava surfando em Sunset em um dia muito pequeno, com altas direitinhas. Estávamos eu, Barton Linch, que estava empurrando seu filho nas marolas, o Randy, enfim, um astral muito legal.
Nesse dia estava bem raso e eu passei o pé nos corais em Bone Yards e acabei machucando meu dedão do pé. Foi um corte muito pequeno e acabei não limpando mas o machucado inflamou bastante. Liguei para meus médicos no Brasil e eles me aconselharam a procurar um hospital, onde fui muito bem atendido. Tomei os antibióticos receitados pelos médicos e os enfermeiros fizeram uma limpeza, e graças a Deus deu tudo certo. Mas é super importante que todos fiquem ligados porque conheço casos que começaram assim e ocasionaram até em amputações. Portanto, se você sofrer algum acidente envolvendo corais, não brinque e procure logo atendimento médico.
Voltando à trip, essa temporada foi muito agradável e segundo a galera havaiana, esse foi um inverno muito influenciado por ventos ruins, ventos do Sul, que fica bom do outro lado da ilha.
Essa viagem teve essa conotação mais social na qual consegui socializar com antigos e novos amigos, além de pegar altas ondas. Como sempre aproveitei para visitar os shapers locais, testei novas pranchas, aproveitei para checar todas as tendências, visitei lojas além de testar algumas pranchas diferentes.
O Havaí é sempre uma viagem incrível e dessa vez não foi diferente. Agradeço a todos os meus amigos que me receberam de braços abertos e já estou planejando a próxima vez.
Aloha e boas ondas, Rico de Souza.